top of page

Pe. Ederaldo M. Oliveira, sds

 

                 Rompendo os limites da nossa concepção sobre meio ambiente, o conceito de sustentabilidade abrange outros parâmetros que englobam o ser humano e suas necessidades ainda insatisfeitas, seu modo de organização social e a maneira como interfere no meio em que vive. Desenvolvimento sustentável é um conceito que contempla o desenvolvimento humano como um todo; seja no campo econômico e social sem abandonar, porém, a preocupação por soluções que garantam a defesa e a preservação da vida e dos recursos naturais, pois não é possível conceber a permanência do ser humano no planeta sem tratar do ambiente em que vive.

 

Sustentabilidade

                   A Igreja Católica possui um modelo organizacional cuja estrutura baseia-se na divisão geográfica: cada Igreja particular possui um considerável grau de autonomia e, em geral, tem um bispo como pastor, cujo encargo é governar a porção do povo católico a ele confiada – circunscrita num delimitado território –, santificá-la por meio dos ritos próprios e ensinar-lhe a doutrina e a fé católicas. Os tipos de Igreja particular variam; o mais comum são as dioceses (há também as prelazias, abadias, vicariatos apostólicos, prefeituras apostólicas e administrações apostólicas).

 

                A maioria das Igrejas particulares são divididas em paróquias, modelo que remonta ao século IV para fins de pastoreio. Em cada paróquia, pode ser constituído um conselho pastoral, composto por um grupo de leigos e tendo como presidente o próprio pároco, cuja função é ajudar na promoção da ação pastoral, a qual engloba ações de cunho social, humanitário e mesmo ambiental.

 

                As paróquias católicas possuem relevantes características estruturais que podem colaborar com as exigências de implementação de uma agenda sustentável local, de um modo especial, seu poder de capilaridade nas cidades brasileiras, inclusive metrópoles e zonas rurais. Embora em menor proporção do que no século passado, as pastorais sociais e os serviços de evangelização possuem capacidade de adentrar no convívio social das comunidades, muitas vezes nas próprias famílias.          

     

                As obras sociais, em muitos casos não diretamente ligados a uma paróquia (mas a outras estruturas organizacionais católicas, como as congregações religiosas), são também prova de que o catolicismo ainda mantém vínculos com a vida da sociedade e certa capacidade de transformação social.

 

                Com sua estruturação e sua capacidade de inserção, as paróquias católicas podem ser um foco de cultivo e disseminação de iniciativas sustentáveis, um agente capaz de criar uma cultura de sustentabilidade, bem como agregar esforços e outros agentes em busca da implementação de uma agenda mais ampla. Isso seria um contributo considerável para os municípios brasileiros e a sociedade em geral.

 

                Do ponto de vista pastoral e doutrinal, uma iniciativa como essa seria bastante vantajosa para as paróquias: apesar de a Igreja Católica assumir oficialmente seu compromisso com a vida -o que inclui o meio ambiente-, esse discurso, muitas vezes, não se materializa em ações transformadoras, que surtam efeitos tanto na sociedade quanto na própria organização eclesial.

 

                O próprio processo de implementação de uma agenda de sustentabilidade paroquial poderia tornar-se um eixo condutor para os trabalhos das pastorais sociais e os serviços de evangelização, norteando e equalizando seus esforços – frequentemente dispersos e, por isso, enfraquecidos. Seu poder de agregação pode ser capaz de fomentar a construção de verdadeiras comunidades, nas quais se cultivem valores e um modus vivendi que lhes proporcionem qualidade de vida e, ao mesmo tempo, salvaguardem, ao menos em parte, os direitos das gerações futuras. Para sua perpetuação, esses valores e estilo de vida sustentáveis, quando interiorizados numa comunidade, precisam ser transmitidos aos mais jovens. Ora, uma autêntica educação católica, pela qual é dever dos párocos zelar, deve contemplar esses elementos.

 

                Por fim, um ponto que, num primeiro momento, pode causar certo mal-estar numa sociedade secularizada como a atual é, também, na verdade, um benefício: um processo de implantação de uma agenda local não pode prender-se a confissões religiosas, pois o bem comum extravasa os limites de uma fé. Desse modo, é evidente que uma paróquia católica (bem como qualquer outro organismo religioso, de qualquer confissão, que se proponha a encabeçar uma tarefa como essa) não pode circunscrever seus trabalhos aos fiéis católicos; como qualquer atuação no âmbito público, o bem comum é devido à comunidade toda e, por isso, deve contemplá-la por inteiro.

 

                Na verdade, inúmeras iniciativas católicas, especialmente aquelas promovidas pelas pastorais sociais, exercem seus trabalhos com absoluto respeito às confissões religiosas (e mesmo ao ateísmo) daqueles a quem atendem ou auxiliam. Uma agenda de sustentabilidade local poderia ser um instrumento para o ecumenismo  e mesmo para o diálogo inter-religioso.

 

                Também é necessário ter responsabilidade ambiental por conceito; as políticas de meio ambiente são políticas transversais, assim com as de juventude. Por esse motivo é importante incentivar essas ações com uma ressalva, pois se estivermos reciclando mais, é por que não estamos preservando. A reciclagem foi criada para diminuir o impacto do consumo não consciente, e o que devemos incentivar é o consumo consciente, preservando e sendo menos agressivo na degradação do meio ambiente na hora do nosso consumo individual, desde a escolha por produtos ecologicamente corretos, como a diminuição de resíduos descartáveis durante a utilização dos bens e produtos.

 

                Apesar das tradicionais lutas da Igreja Católica, principalmente no campo social e politico, não tenham cessado por completo, o momento atual apresenta uma oportunidade para uma nova empreitada, em que ela pode somar seus esforços na implementação de uma agenda de sustentabilidade nas mais diferentes regiões do Brasil.

 

                São compatíveis os conceitos de desenvolvimento sustentável e a missão das paróquias católicas. A estrutura consolidada das paróquias pode favorecer o incremento de dessa agenda para a sociedade a sua volta, levando em conta que a metodologia do Ministério do Meio Ambiente para implementação de uma proposta concreta alinha-se com o modelo paroquial atual, em que costumeiramente, as decisões são tomadas de forma participativa e colegiada, com a cooperação dos leigos engajados nos trabalhos pastorais.

 

                Nessa perspectiva as paróquias católicas tem um potencial ainda inexplorado ou muito pouco explorado na organização e aplicação desse importante instrumento de construção da sustentabilidade. Uma agenda de sustentabilidade paroquial conseguiria somar o lema do movimento ambientalista “pensar globalmente, agir localmente” com a exigência cristã de amor ao próximo, cuidado para com todos os seres vivos e uso equilibrado dos bens temporais.

 

  • Wix Facebook page

Copyright © 2014 - 2015. Todos os direitos Reservados

RELIGIOSOS SALVATORIANOS - PROVÍNCIA BRASILEIRA

 

Desenvolvido por:

 

 

bottom of page